11/06/2021 às 02:14 Entrevistas

"Não me importo em ser comparado com o Max Cavalera, tenho meu próprio estilo!" - Entrevista com Igor Amadeus (Go Ahead And Die)

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Quando Max Cavalera resolveu unir forças com Igor Amadeus, seu filho, o resultado foi a banda Go Ahead And Die. Essa mistura de gerações deu caldo e os primeiros singles foram muito bem recebidos!

Agora, a banda está lançando o primeiro disco, autointitulado, com letras principalmente sobre a situação complicada que o mundo atravessa devido ao coronavírus. Conversei com Igor sobre o novo projeto com seu pai, influências na guitarra, relação com o Brasil e a comparação inevitável com Max Cavalera! Boa leitura!

Gustavo Maiato: Em uma entrevista, seu pai, o Max Cavalera, disse que o álbum para ele é como se fosse uma “volta às raízes”, algo mais oldschool. Você concorda com ele?

Igor Amadeus: Concordo com ele, definitivamente! Esse disco parece que foi lançado em 1988”! Foi nossa intenção, era parte do plano. Foi gravado e escrito dessa forma.

Isso aconteceu por causa dos nossos gostos semelhantes. Somos fãs de Hellhammer, Celtric Frost, então essas influências sempre estiveram conosco. Quando resolvemos montar a Go Ahead And Die, percebi que foi como voltar à adolescência, para nós dois.

Ainda que exista uma geração de diferença entre mim e meu pai, nós amamos as mesmas coisas, o mesmo estilo. Nossa banda é uma mistura disso tudo.

Gustavo Maiato: Você fala algo de português?

Igor Amadeus: Muito pouco!  Meu pai viajava muito, não tinha tempo para sentar e me ensinar quando eu era criança. Já aprendi algumas palavras como “muito foda!”. Sei um pouco!

Gustavo Maiato: Você disse que tem muitas influências em comum com seu pai. E o que você pode dizer sobre as principais diferenças entre vocês dois?

Igor Amadeus: Gosto muito de coisas mais lentas, tipo doom e slugde. Não sei se o meu pai gosta ou não, mas ele gosta de tudo rápido! Eu gosto das coisas mais lentas, ele é mais extremo. Acho que sou mais psicodélico!

Gustavo Maiato: Esse gosto particular seu por uma pegada mais lenta influenciou o disco de estreia do Go Ahead And Die?

Igor Amadeus: Sim, você pode ver essa influência na música “Prophets Prey”, por exemplo. Tem umas coisas midtempo lá. Na “Roadkill” também, então essa minha influência aparece de certa forma.

Gustavo Maiato: Falando sobre as músicas, “Toxic Freedom” fala sobre corrupção policial. Infelizmente, o Brasil convive com essa realidade. Você sabe desses problemas que acontecem por aqui?

Igor Amadeus: Sei um pouco sobre a situação do Brasil, meu pai me conta. Sei sobre seu presidente, sobre a corrupção. Sei que a favela protege as pessoas mais do que a polícia.

Minha esposa é da Argentina, muita gente não sabe disso, eles sofrem os mesmos problemas que vocês. Tenho muito dessa influência da América Latina.

Por outro lado, minha mãe é de descendência russa. Então, voltando nessa parte da árvore genealógica, o povo russo lidou com o holocausto, foi prisioneiro na Sibéria, foi louco isso!

Essa música, a “Toxic Freedom”, na verdade foi muito influenciada pelo assassinato do George Floyd. Sabemos desses problemas há muito tempo, mas isso foi a gota d`água para nós escrevermos a letra. Todos precisam ver isso, o vídeo foi influenciado também por esse sentimento.

Gustavo Maiato: Por falar nesse clipe, qual foi a ideia por trás da escolha de fazer um clipe com recursos de animação? É uma forma diferente de contar a história...

Igor Amadeus: Acho legal, é uma forma diferente de se expressar, como você disse. Às vezes, uma música é boa por si só, mas ao colocar imagens, o aspecto visual, fica mais fácil para quem está ouvindo entender a mensagem. Fica mais na cara.

Eu gosto de vídeos animados, é divertido fazer. É uma forma de arte nova que você consegue expressar várias coisas. A equipe fez um trabalho maravilhoso, combinou bem com o disco.

Gustavo Maiato: A música “Truckload Full of Bodies” fala sobre essa situação da covid-19. Nos EUA as coisas estão melhorando, mas aqui no Brasil nem tanto. Como foi lançar uma música sobre algo que ainda está entre nós? Normalmente as músicas falam sobre algo do passado, mas a pandemia infelizmente ainda está por aí!

Igor Amadeus: É uma coisa que acontece uma vez na vida outra na morte. Quando começamos a pensar na Go Ahead And Die, sabíamos que a pandemia ainda estava acontecendo. A quarentena, as empresas fechando, isso que estamos vivendo é algo singular.

Realmente queríamos capturar essa energia que apareceu ano passado e ainda está aqui esse ano. Aqui na Flórida também não está tão legal. De um lado é inacreditável, é triste ter que escrever uma música sobre essa crise.

Por outro lado, é ótimo lançar uma música sobre a covid porque leva consciência para as pessoas, como você disse... Estamos falando sobre algo que está acontecendo agora. Não temos muitas oportunidades de fazer isso, como músicos. Demora muito para compor, gravar.

É mais fácil falar sobre algo do passado. Escrever durante a quarentena e lançar agora é algo único mesmo, essa música é um exemplo perfeito dessa situação.

Gustavo Maiato: Estou vendo no seu cenário que você tem várias guitarras!

Igor Amadeus: Sim! Eu sou um colecionador!

Gustavo Maiato: Muito legal! Nesse primeiro disco você tocou guitarra, mas também baixo, fez back vocals. Você acumulou funções, certo?

Igor Amadeus: Gravei o baixo por causa da covid. É muito difícil ter vários músicos na mesma sala. Na verdade, quando gravamos os aeroportos ainda estavam fechados. Viajar não era algo que você podia fazer.

Então, decidimos que eu ia gravar o baixo e depois tentaríamos encontrar um baixista. No disco eu toco guitarra também, claro, e escrevi muita coisa. Escrevi a maioria das letras do disco. Eu era tipo um editor, meu pai chegava com ideias, eu batia o olho e via se estava legal.

Tive muito trabalho nesse álbum. Para muitas pessoas é apenas mais um disco do Max Cavalera, mas tem muita influência minha, não soa só como um disco do Max Cavalera. Soa como ele, mas também tem outras coisas acontecendo, outros estilos, influências.

Gustavo Maiato: Esse é o seu primeiro disco, certo?

Igor Amadeus: Estive em outras bandas antes, mas eram independentes, mais underground. Esse é meu primeiro álbum que as pessoas estão realmente prestando atenção. Vai sair pela Nuclear Blast, eles estão promovendo bastante, marcando entrevistas e tudo mais. Está sendo muito louco!

Gustavo Maiato: Ainda sobre as guitarras, quais seriam os três guitarristas que mais te inspiraram na sua carreira?

Igor Amadeus: Sim, eu diria que o Tom G. Warrior, do Hellhammer, Celtic Frost e Triptykon. Amo todo o trabalho dele, a simplicidade. Também o Scott Kelly, do Neurosis, um ótimo vocalista, fez riffs ótimos. Um terceiro seria o J. K. Broadrick, do Godflesh. Essa banda é uma das mais originais da história.

Gustavo Maiato: Como é lidar com essa comparação com o seu pai? Você lida bem com isso?

Igor Amadeus: Quando eu era mais novo... Comecei no mundo da música com uns 15 anos. Nessa época, isso me incomodava. Já é difícil ser um músico, mas é mais complicado ainda quando as pessoas têm expectativas sobre você.

Sempre fui muito punk rock, não tenho educação formal na guitarra. Sou autodidata, não me considero uma criança prodígio nem nada! Gosto de música pesada e toco. Muitas pessoas esperam que eu soe tipo o “Beneath the Remains” ou o “Arise”.

Isso me incomodou um pouco na época, mas quando fiquei mais velho, desenvolvi meu próprio estilo. Não me importo mais, sei que as pessoas farão essa conexão, não importa o que eu fizer.

Minha outra banda, o Healing Magic, é completamente diferente do Go Ahead And Die, e diferente de tudo que meu pai fez, mas ainda sim é comparada com ele. O lance é fazer a música que quero e não me importar muito.

Gustavo Maiato: Falando sobre seu pai, quais seriam os três discos que ele gravou que você mais curte?

Igor Amadeus: Gosto muito do álbum “Point Blank”, que ele lançou no projeto Nailibomb. No Soulfly, amo o primeiro disco, o “Soufly I”. Vejo como um disco em que meu pai estava muito vulnerável e estava se descobrindo.

Agora, na época do Sepultura, é difícil, são muitos bons. Meu favorito acho que seria o “Beneath the Remains”, é uma boa mistura do thrash dos primeiros discos, mas com algo mais moderno.

Gustavo Maiato: Você já tem planos para turnê? Podemos esperar uma visita ao Brasil?

Igor Amadeus: Espero que sim! Já conversamos sobre levar o Go Ahead And Die para os palcos. Como estamos ainda na pandemia, o mundo está louco. Talvez ano que vem vamos viajar para outros países, nesse meio tempo vamos fazer shows virtuais.

11 Jun 2021

"Não me importo em ser comparado com o Max Cavalera, tenho meu próprio estilo!" - Entrevista com Igor Amadeus (Go Ahead And Die)

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