Wolf Hoffmann é um dos mais importantes nomes da música pesada alemã e revolucionou o metal com o Accept nos anos 1970. Recentemente, a banda lançou o disco “Too Mean To Die”, que poderá ser conferido pelo público brasileiro no Summer Breeze Brazil – que acontece em abril em São Paulo. Conversei com Wolf sobre isso e muito mais! Boa leitura!
Você já compôs um disco solo inspirado em música clássica e esse tipo de música sempre esteve presente na sua vida. De que maneira a musicalidade do Accept foi influenciada por esses compositores clássicos?
Sempre foi uma influência no som do Accept, embora eu não percebesse isso no começo. Mesmo quando escuto músicas como “Princess of the Dawn” ou “Fast As A Shark”, acredite ou não, mas tem muito trecho de melodia lá que compus na guitarra e parece algo na pegada de música clássica. Só que eu não percebia isso na época. Só depois, quando me aprofundei no estilo e fiz meu álbum sinfônico, é que deixei essa influência florescer em mim. Estava no meu inconsciente naqueles dias. Escrevia melodias e nem pensava, mas se você analisar, parece um poco como Bach ou outros compositores. Posso ter roubado deles.
O novo álbum “Too Mean To Die” é o 16º da carreira do Accept, que passou por uma recente mudança de line-up. Como isso influenciou o disco?
Acho que de uma maneira geral, não mudou muito, porque eu sou o compositor principal. Tem uma certa continuidade nisso ao longo dos anos. A grande mudança foi perder meu parceiro de composição Peter Baltes, que saiu da banda uns três anos atrás. Eu e ele éramos os responsáveis pela maioria das canções. Dessa vez, fiquei com mais peso pra meu lado, precisei fazer mais coisa. Por sorte, nosso novo baixista Martin Motnik tem grande talento para composição e apresentou várias ideias boas. Eu gosto de trabalhar com outras pessoas. Gosto de receber ideias. Não é divertido fazer tudo sozinho. Foi um trabalho em grupo.
A música “Symphony of Pain” tem uma letra bem triste. Sobre o que ela fala?
Quando compus essa música, veio para mim essa ideia de ‘Sinfonia da Dor’. Só que não sabia sobre o que poderia ser. Comecei a cantar e pensei: ‘Qual é a sinfonia mais famosa do mundo?’. Bom, achei que pudesse ser a quinta do Beethoven. Coloquei um trecho na ponte, indo para o refrão. No solo, coloquei outro trecho clássico do Beethoven – o ‘Ode to Joy’. Então, começamos a pensar sobre o que poderia falar essa música. Surgiu a ideia de falar sobre o próprio Beethoven. Sobre o desafio que ele passou com a surdez. É basicamente sobre esse problema que ele teve, quando perdeu a audição. Quando você consegue referências de histórias reais, é mais fácil compor. É mais difícil quando precisa inventar uma história de fantasia.
Qual disco do Accept teve menos atenção do que deveria, na sua opinião?
Acho que todo álbum tem a atenção que ele merece, de alguma forma. Se ele for realmente bom, as pessoas vão parar e escutar. É difícil dizer. Por um lado, acho que todo disco tem a ver com o período histórico em que ele foi lançado. Se eu lançar um álbum como o ‘Breaker’ hoje em dia, seria melhor aceito? Ou menos aceito? Naquela época, aconteceu o que aconteceu. Não dá para saber o que poderia ter acontecido se tivesse saído dez anos antes ou depois. É difícil dizer. No geral, acho que a plateia que decide, não eu. Tenho esse modo estranho de pensar. Faço meu melhor e entrego para o público decidir. Nem escuto muito mais depois de lançado.
Em 2010, o Accept lançou a música “Teutonic Terror”, que se tornou um clássico recente da banda. Qual foi a inspiração para esse hit?
Essa música foi um dos primeiros riffs que escrevemos para o álbum “Blood of the Nations”. Nós tocamos para nosso produtor e não sabíamos o que cantar. O Mark Tornillo surgiu com o trecho ‘Give em’ the axe’, que tem duplo sentido, porque pode se referir a um martelo ou uma guitarra. A ideia do refrão veio dele e ficou muito boa. Essa música fala sobre hinos de batalha, essa coisa medieval. Já que somos uma banda alemã, viemos com essa coisa do teutão e acabou ficando engraçada. Essa música não é lá muito séria! Virou um novo clássico do Accept e tocamos todas as noites. Para mim, está no mesmo nível de ‘Balls to the Walls’, ‘Princess of the Dawn’ e ‘Metal Heart’.
Quais bandas você curte, mas as pessoas achariam estranho se descobrissem?
Posso te dar um exemplo. Quando eu era criança, ouvia muito Steely Dan. Não me pergunte o motivo, mas sempre ouvia. Não tem nada a ver com metal, isso surpreenderia as pessoas. Também gosto muito de Jethro Tull, que é diferentão. Outra banda que não é considerada metal e eu curto é o Status Quo, só que na década de 1970, eles eram considerados bem pesados. Eles tinham dois guitarristas e todos tocavam com aqueles movimentos de palco. Foi daí que o Accept tirou inspiração para fazer a mesma coisa. Roubamos um pouco deles! [risos].
Você já está trabalhando em um novo álbum do Accept? Tem algum spoiler?
Não posso falar ainda! Mas tenho riffs e um HD cheio de ideias. Agora que a turnê europeia acabou, voltei para casa e minha missão é trabalhar nas músicas novas. Tenho algumas composições que já estão pela metade, preciso transformar tudo em música.
Quais bandas são mais importantes para a sonoridade do Accept?
Deep Purple é uma influência enorme. Além disso, Judas Priest e AC/DC. Esses são os três grupos que se você pegar todos os clássicos deles, colocar no liquidificador e misturar, você terá o Accept! [risos]. Esses são os ingredientes para cozinhar uma música do Accept! Coloca um pouco de salsa e tabasco também!
Como está sendo a reação das pessoas sobre as músicas novas do Accept?
O feedback está sendo fantástico! Esse é um dos raros discos em que podemos pegar qualquer música e tocar ao vivo e será ótimo. Tem discos que funcionam mais no estúdio e poucos funcionam nos shows. Nesse caso, tocamos cinco músicas ao vivo. Tem a ‘Zombie Apocalypse’, ‘Too Mean To Die’, ‘Overnight Sensation, que todos gostam muito, ‘The Undertaker’, ‘The Best is Yet To Come’. Podemos tocar outros também.
E o show no Summer Breeze Brazil será o mesmo que o Accept apresentou na Europa? Ou teremos surpresas?
Não posso dizer meus segredos! [risos]. Honestamente, não sei quanto tempo teremos lá. Fazemos o setlist na noite anterior do show! Não faço tipo dois meses antes. Às vezes, definimos horas antes do show!
Minha última pergunta é: Por que você cortou seu cabelo?
Bom, a natureza assumiu o comando! [risos]. Na verdade, fiz uma aposta com o Peter Baltes que se eu perdesse eu ia cortar o cabelo. Acho que foi se um álbum ia ou não fazer sucesso, não lembro bem. Nesse tempo, eu estava perdendo cabelo já. Decidi então ir de cabeludo para careca! Não queria o meio termo! Era tudo ou nada! Só sei que perdi a aposta e cortei tudo!