09/10/2022 às 15:56 Entrevistas

Entrevista com Kiko Loureiro (Megadeth)

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6min de leitura

Kiko Loureiro é o guitarrista brasileiro mais famoso da atualidade e lançou recentemente o álbum “The Sick, The Dying... And The Dead” – seu segundo no Megadeth. Conversei com Kiko a respeito desse novo trabalho e também sobre política e a relação com o Brasil! Boa leitura!

Gustavo Maiato: Como está sendo a recepção do novo álbum “The Sick, The Dying... And The Dead”, do Megadeth? Quais comentários chegaram até você?

Kiko Loureiro: Pelo que vejo, a receptividade está fantástica. Hoje em dia, dá para ver a reação direta dos fãs na internet. Vejo muitos reacts de países diferentes no YouTube. Vários analistas, profissionais ou não, dão comentários.

Enquanto os singles e vídeos foram lançados, andei lendo coisas. O Dave Mustaine não faz muito isso de ir atrás de comentários. Ele pergunta um pouco para mim sobre isso. Já eu sou mais youtuber! [risos].

Uma coisa que as pessoas falaram e chamou minha atenção, e que é um pouco a ideia do álbum mesmo, é que não tem um consenso de qual música é a preferida das pessoas. Algumas gostam das músicas mais rápidas, que lançamos primeiro. Outras preferem as mid-tempo. Isso é um bom sinal, né? Acaba deixando o álbum mais rico e agradando a diferentes gostos.

Isso aconteceu naturalmente, mas temos isso em mente. Por exemplo, algumas composições que participei tentei puxar para uma vibe mais do começo do Megadeth. Puxei da memória, quando assisti o Megadeth no Rock in Rio lá atrás. Já o Dave, tem outra perspectiva do Megadeth, já que ele esteve na banda desde sempre. Ele traz outras ideias.

Essa mistura resulta nessa diversidade. Senão, fica com uma cara só. E o Megadeth dos anos 1980? Onde entraria? Por isso, uma ou outra lembram essa fase. O álbum acaba passeando por diversas fases. Quando uma banda já tem muito tempo, surgem essas questões para serem enfrentadas, né? Tipo, o que vou fazer? Já tem muitos álbuns. Foi legal ver que tudo deu certo nos comentários.

Gustavo Maiato: Existe uma certa temática no álbum, que é a questão da guerra. Dá para falar que é um disco conceitual? Como você analisa isso?

Kiko Loureiro: Vou repetir palavras do Dave Mustaine aqui. Ele diz que não é conceitual e não tem nada disso. Agora, vou dar minha opinião... Existe um conceito sim. Ele não gosta dessa coisa de álbum conceitual! [risos]. As músicas têm vida própria, essa é a ideia do Megadeth.

Agora, o próprio Megadeth é um conceito. Qualquer banda tem um conceito por trás. Desde o segundo álbum pelo menos, sempre rolaram questionamentos políticos e de Estado. No caso do metal, vai para o tema de guerra etc. As metáforas e referências usadas são nessa pegada de guerra.

Um exemplo é a música “Soldier On!”, que vem do termo que significa ‘soldado’, mas lembra também ‘solda’. É se você está preso em alguma coisa que te faz mal e você precisa tomar uma decisão para sair fora. Dá para associar ao mundo militar, mas você pode entender como algo sobre relacionamento com uma pessoa. Um relacionamento abusivo com amigo ou trabalho que está ruim e você não tem coragem.

No inglês, esse termo ‘Soldier On’ também funciona quando você tem alguma situação difícil na vida e é para você continuar na batalha e não largar, porque vai dar fruto lá na frente. Dá para entender as letras com essas variantes. Mas todos os clipes e palavras levam para o tema da guerra, que está com o Megadeth não é de hoje.

Gustavo Maiato: Por falar em política, aqui no Brasil estamos nas eleições. Você fala sobre isso com o Dave Mustaine? Eles estão ligados no que acontece aqui?

Kiko Loureiro: Não falo muito. Eles são mais ligados nas questões americanas, que sempre está em alta. O Dave e o James LoMenzo são americanos. O Dirk Verbeuren é belga, mas mora nos EUA tem muito tempo. Outro dia, tentei explicar o que está acontecendo no Brasil. Eu expliquei para o James, mas ele não fazia a mínima ideia de quem é Bolsonaro e Lula! Tentei explicar um pouco. Temos outros brasileiros na equipe e tudo, então tentei falar sobre.

De qualquer forma, eles não têm tanto interesse assim sobre política nesse sentido. Agora, tem a Guerra da Ucrânia e a questão da China com Taiwan que são mais macropolíticas e isso acaba sendo o assunto da vez. Os EUA estão com questões internas também, que viram assunto.

As pessoas no Brasil têm uma ideia errada dos EUA. Eu estou aprendendo agora viajando pelas cidades que não são Disney e Time Square, sabe? Que são lugares que os brasileiros mais visitam. Comecei a ir nesses lugares e ver a beleza do país de verdade.

Gustavo Maiato: Quais foram as músicas mais difíceis de compor e arranjar?

Kiko Loureiro: Todas elas têm uma história e uma dificuldade. Falando por mim, trouxe algumas ideias, como a "Célebutante", "Night Stalkers" e "We’ll Be Back". Essas três contribui muito. A "Célebutante" fiz praticamente todas as partes de guitarra. A "We’ll Be Back" quase tudo.

Para mim, essas partes nasceram rápido. Mas até o ponto de a banda tocar junto e decidir que elas se encaixam no álbum e se tornarem até vídeos, existe toda uma trajetória de ajustes. Se você parar para pensar, todas tiveram um vai-e-vem gigantesco. Até porque teve a covid e o câncer do Dave no meio dessa história. Você não se afasta das músicas, sabe?

Tipo, estávamos compondo e o Dave precisou se afastar para tratar o câncer. Ficamos 6 meses sem se encontrar. Quando você vai voltar a ouvir as músicas de onde tinham parado, já existia um distanciamento e você começa a pensar o que poderia mudar. Logo depois, parou por causa da pandemia. Fui encontrar o Dave uns 8 meses depois. Esses distanciamentos dão chance para querer arrumar e reorganizar.

Isso tem um lado bom. Desgastamos o máximo possível as ideias e as possibilidades. O álbum está sendo aceito, então é um bom sinal. O problema é que parece que a coisa nunca acaba! Que estamos enxugando gelo! Será que estou enxugando o gelo? Mas isso é em qualquer álbum que fiz na minha vida. Pode ser com o Angra ou disco solo. Você precisa enxugar o gelo para ter certeza do que quer.

Para ter uma ideia, gravamos coisas para o álbum na manhã da entrega da masterização! Já estava tudo pronto, aí do nada o Dave pensou que queria botar mais um negocinho. Os caras da Universal ficaram tipo: ‘Pelo amor de deus, manda logo essa coisa!’ [risos].

Gustavo Maiato: Poderia deixar uma mensagem para os fãs brasileiros?

Kiko Loureiro: Estou morrendo de saudades! Não vejo a hora de voltar ao Brasil. Estou quase comprando uma passagem só para ir! Sinto muita falta. Emendou a pandemia, então sinto falta dos meus pais e irmãos, amigos... Até do pão de queijo da padaria e do zelador do prédio! [risos].

Tem muitas coisas que só existem no Brasil, né? Estou morando na Finlândia, que é um mundo completamente a parte. Fico muito nos EUA também. Essa vida americana. O Brasil é uma coisa fantástica. Os fãs e a plateia são diferentes. Quando tocamos aqui, é o maior esquema de palco. Só que tem coisas estranhas e não é por mal! Mas outro dia tinha um cara na primeira fila – com uns 15 anos mais ou menos – e ele estava comendo um cachorro-quente na grade! Isso não acontece no Brasil! [risos]. O cara tranquilo comendo um sanduiche na caixinha! Na frente do Dave Mustaine! Tive que tirar uma foto daquilo! Como assim o cara consegue comer com tranquilidade? O que o cara está fazendo comendo ali no show? Aqui as coisas são mais organizadas, tem que ter cuidado para não machucar. Se o cara escorrega, processa a empresa. Não dá para se jogar no palco! Tem uma diferença da energia do latino-americano, que dá saudades.

09 Out 2022

Entrevista com Kiko Loureiro (Megadeth)

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