13/09/2021 às 16:45 Entrevistas

Entrevista com Martín Méndez (Opeth, White Stones): "Ouço muito Bossa Nova. Esse groove aparece nas minhas composições!"

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O uruguaio Martín Méndez é o segundo membro mais longevo do Opeth. Recentemente, o músico lançou a banda White Stones, com uma sonoridade pesada!

Na entrevista abaixo, conversamos sobre seu novo projeto, os 20 anos do clássico "Blackwater Park", do Opeth, e também sobre suas raízes latinas e como isso influencia em sua composição! Boa leitura!

Gustavo Maiato: O novo projeto “White Stones” chamou muita atenção com o lançamento do debut “Kuarahy” (2020). Agora, com “Dancing Into Oblivion” (2021), como você avalia a evolução da sonoridade da banda?

Martín Méndez: Acho que dessa vez o som está um pouco diferente. O segundo disco foi composto durante a pandemia, então as emoções eram diferentes da época do primeiro. Fora isso, tem diferenças na forma que compus. Quero pensar que aprendi nesse período, melhorei minhas habilidades nesse álbum.

Falando sobre as músicas de “Dancing Into Oblivion”, você disse que “Chain of Command” foi influenciada pelo grande músico de jazz John Coltrane. Como foi essa inspiração e qual a mensagem por trás dessa música?

Essa influência não é óbvia na música, claro, não fiz um jazz! Mas tenho ouvido muito jazz e, especialmente, John Coltrane. Adoro! Quando compus “Chain of Command”, estava ouvindo bastante uma música dele chamada “Gold Coast”. A introdução me inspirou muito. Ouço bastante jazz, a influência está sempre aí. Mas é claro que a música que eu faço não tem nada de jazz!

É um pouco mais pesado, certo? (risos)

Sim! Um pouquinho só! A influência está lá, ouço muitos estilos de música e sou inspirado por tudo que ouço. Agora, eu não escrevi a letra. Quem escreveu foi nosso cantor Eloi Boucherie. Sei que a mensagem tem uma metáfora com o xadrez. Tem a ver com o poder e como a sociedade reage à realidade.

Outra música que me chamou muito atenção foi a “Iron Titans”. Ela é gigante e com várias atmosferas. Como foi compor essa música? Acho que, de certa forma, ela tem a estrutura das músicas antigas do Opeth, que são bem longas também.

Essa é a maior música do álbum. Talvez a mais prog também, não sei. Dá para perceber três diferentes partes dentro da música. Eu gosto muito dela. Essa foi uma das poucas que comecei a compor com o baixo, normalmente componho com a guitarra. Eu acho a introdução muito legal, e também como ela se desenvolve. Tem uma inspiração forte no black metal.

Já que você disse que gostou muito dessa música, preciso perguntar: qual é a sua música favorita de “Dancing Into Oblivion”?

Não sei, acho que gosto do disco como um todo. Eu vejo como algo inteiro. Tento ouvir do começo ao final, toda música tem algo em particular que acrescenta algo ao álbum. Gosto dessa dinâmica entre as músicas. Temos algumas pesadas e interlúdios entre as faixas. Isso é algo que foi planejado desde o começo.

O nome “White Stones” foi inspirado em uma localidade no Uruguai, país onde você nasceu. Como você acha que essas raízes latinas influenciaram você e sua musicalidade? Também sou latino, então é legal saber essa perspectiva!

Ainda ouço muita música da América Latina! Isso me influencia muito. Ouço muito tango, milonga, bossa nova, jazz e tudo mais. Acho que dá para perceber no groove das músicas do White Stones alguma inspiração desses estilos latinos.

Você nasceu no Uruguai e passou sua infância e adolescência lá. Depois, você se mudou para a Europa. Por que você decidiu se mudar e quais as principais diferenças culturais entre esses dois lugares?

Meu único objetivo ao mudar para a Suécia foi tentar tocar heavy metal. Foi a única razão. A Suécia é o país mais extremo da escandinávia. Me mudar do Uruguai para a Suécia foi uma baita mudança.

A cultura é totalmente diferente. As pessoas são diferentes. Com o tempo, você acaba aprendendo como as coisas funcionam, como as pessoas pensam. Me mudei em 1996, quando tinha 17 anos. Tem muito tempo!

Vivo na Suécia a mais tempo do que vivi no Uruguai, mas por algum motivo os primeiros anos da nossa vida acabam sendo aqueles mais importantes... Me sinto mais uruguaio do que sueco!

Voltando a falar sobre o “White Stones”, qual a diferença entre tocar numa banda que você fundou e trabalhar no Opeth?

Essas duas bandas são completamente diferentes. O Opeth é uma banda enorme. O White Stones é um projeto menor. A diferença é que aqui tenho mais controle das minhas ideias. Estou envolvido em todos os passos. Desde a composição até a arte da capa e os clipes.

Isso não acontece no Opeth. Eu amo os dois trabalhos, dá muito trabalho ser o integrante principal, tenho que dizer. Preciso dar mais entrevistas, tomar todas as decisões. Isso toma muita energia! Gosto também de ser apenas o baixista no Opeth. Fico mais tranquilo, posso me concentrar no meu instrumento.

No White Stones você é o principal compositor. No Opeth você chegou a compor alguma música?

Não, apenas toco o baixo mesmo. Quem sabe no futuro!



Não tem como falar do Opeth sem mencionar que o grande clássico “Blackwater Park” (2001) está fazendo 20 anos agora em 2021! O que esse disco representa para você? Quais memórias você tem dessa época?

Me lembro muito bem desses dias no estúdio. Foi ótimo para mim. Foi meu segundo disco com o Opeth. Esse álbum é muito importante para a banda porque quando lançamos, começamos a fazer turnês. Não fazíamos isso antes.

Para a banda, o “Blackwater Park” deu a chance de expandir e fazer turnês no mundo. Muitos países puderam nos ver ao vivo. Tenho ótimas memórias. Todo álbum é importante, e esse foi ótimo também.

Ao longo dos anos, o Opeth mudou a sonoridade. O death metal foi dando lugar ao rock progressivo. O que você achou dessa mudança? Sente falta da sonoridade antiga?

Eu adoro o som que fazemos agora! No Opeth, sempre pensamos em nos desafiar. Fazer algo diferente em todo disco. Depois do “Watershed” (2008), sentimos que era o momento de mudar.

Fizemos muito death metal e precisávamos de uma mudança. Acho que essa mudança foi muito importante. Não sei se o Opeth continuaria existindo hoje em dia se não tivéssemos mudado. Foi um passo muito importante.

De qualquer forma, sinto orgulho de todo álbum que fizemos. Não sabemos como será o futuro. O objetivo principal no Opeth sempre foi surpreender. A nós mesmos e aos fãs. Então, não sabemos o que pode acontecer.

Você é o segundo membro mais longevo no Opeth, depois do fundador e líder Mikael Akerfeldt. Qual o segredo para ficar tanto tempo??

O segredo? Não sei! Acho que é não sair! Eu gosto muito de tocar nessa banda. Somos grandes amigos, amo a música. Acho que esse é o único segredo!

No White Stones, a pegada é mais pesada, como no Opeth clássico. Podemos dizer que o White Stones resgata esse seu lado mais pesado?

Não, não sinto falta desse meu lado mais pesado porque no Opeth tocamos essas músicas antigas em todos os shows. Sempre tem “Deliverance”, “Demon of the Fall”... Então, sempre recebo minha dose diária de deah metal.

Esse lance do White Stones simplesmente veio naturalmente para mim. Eu ouço death metal desde criança, acho que é o tipo de música que mais sei tocar. Foi uma decisão natural tocar dessa forma. Tento fazer algo original, não digo que consigo, mas é algo empolgante compor esse gênero que ouço por tanto tempo.

Vocês já têm planos para shows?

A ideia é fazer shows, com certeza! Quero tocar em festivais. Ainda não tivemos a chance de tocar com o White Stones ao vivo. Quando lançamos “Kuarahy”, tínhamos shows marcados, mas a pandemia veio e tudo foi cancelado. Tudo depende de como as coisas se desenrolarão, mas adoraria tocar ao vivo!

13 Set 2021

Entrevista com Martín Méndez (Opeth, White Stones): "Ouço muito Bossa Nova. Esse groove aparece nas minhas composições!"

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