26/05/2022 às 23:58 Entrevistas

Entrevista: Clémentine Delauney (Visions of Atlantis)

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Nascida na cidade francesa de Lyon, a vocalista Clémentine Delauney acabou de lançar o impressionante álbum “Pirates” com sua banda de metal sinfônico Visions of Atlantis. Nessa entrevista, conversamos sobre essa nova “fase pirata” do grupo e também sobre sua relação com outras bandas da cena.

Ao longo do bate papo, Clémentine também contou sobre as dificuldades de se fazer um show no Brasil e sobre o Exit Eden, seu outro projeto que inclui outras cantoras, como a brasileira Marina La Torraca. Boa leitura!


Gustavo Maiato: Parabéns pelo lançamento de “Pirates”! Quais foram os principais comentários dos fãs até agora? O que eles mais gostaram? Foi uma baita evolução!

Clémentine Delauney: Nossos fãs não esperavam tamanha evolução de tudo! Eles amaram a produção e os vídeos! Também gostaram desse lance do tema dos piratas. Claro que tem gente que prefere uma música ou outra, mas o sentimento geral é que esse é nosso melhor álbum! Acho que ninguém esperava esse álbum!

Gustavo Maiato: Como surgiu essa ideia de transformar o Visions of Atlantis em uma banda com temática de piratas?

Clémentine Delauney: Verdade. No começo não era assim. Me juntei ao Visions of Atlantis em 2013. Queria escrever as letras para o que seria o próximo disco. Precisava descobrir uma maneira de fazer do Visions minha banda. Criei um universo para escrever letras sobre ele. Decidi manter esses assuntos relacionados ao oceano, que vem desde o começo.

Então pensei: ‘Bom, nós falamos sobre oceanos, mas também tocamos metal. Os metaleiros vivem longe do mainstream, sempre à margem, como rebeldes. Quem são os rebeldes do mar?’. Aí pensei nos piratas, claro! Amei esse tema porque se relaciona com vários assuntos que curto, como liberdade, exploração, aventura, viajar pelo mundo.

Desde então comecei a pensar no Visions of Atlantis como uma banda que fala sobre piratas. Por isso lá em 2018, no álbum ‘The Deep & The Dark’, já tinha uma música chamada ‘The Silent Mutiny’, que já tem referências a estar a bordo de um navio e tudo mais. Ou seja, esse tema não é totalmente novo para nós.

Aí começamos a compor para o novo álbum e as músicas estavam ficando muito mais pesadas e sombrias do que o ‘Wanderers’. Pensamos: ‘ok, precisamos evoluir a partir disso’. Queríamos soar mais épicos ainda e esse lance dos piratas retornou com força. Pensamos que seria o momento exato de assumir essa característica. Tem tudo a ver com a música do álbum. Por isso que, no meio do processo de composição, decidimos tomar essa decisão.

Gustavo Maiato: Todos os próximos álbuns então serão nessa pegada de piratas?

Clémentine Delauney: Sim! Com certeza!

Gustavo Maiato: A maneira com que vocês abordam esse tema dos piratas é interessante. Dentro do metal, bandas como Alestorm e Running Wild já falaram de piratas, mas sempre sobre pilhagem, brigas e bebida. Como é abordar esse lado mais romântico da coisa?

Clémentine Delauney: Sim! Tipo, o Alestorm flerta com o tema dos piratas, mas visualmente nem tanto. Já vi eles no palco com um pato gigante inflável! Isso não é bem pirata, né? Tem esse lance de saias escocesas e tudo mais. Eles tocam no tema, mas é uma banda que vai mais para o lado de festejar. É engraçado, mas decidimos não focar nessas coisas de bebida ou crimes.

Definitivamente escolhemos esse lado mais romântico, quando uma pessoa simplesmente embarca em seu navio e vai por aí de maneira independente, descobrindo novas terras e ditando suas próprias regras. Também é sobre enfrentar as tempestades que chegam até você, entende? Tem uma coisa filosófica e reflexões espirituais que queremos tocar.

Gustavo Maiato: E quais são as referências aos piratas na cultura pop que você mais curte?

Clémentine Delauney: Tem um livro que gosto muito que é o “A Ilha do Tesouro”. Não posso deixar de falar do filme “Piratas do Caribe” também. Gosto muito do “As Aventuras de TinTim”, da Bélgica. Essa história é gigante na França! Ele é um detetive e dentro tem uma história sobre encontrar o tesouro de um pirata. Adorava isso! Bom, também gosto das referências aos piratas no Peter Pan. Tem o filme do Capitão Gancho.

Também já li vários livros que não são sobre piratas, mas envolvem pessoas em navios e tudo mais. Ah, um dos meus filmes favoritos é o “Mestre dos Mares”, que não fala sobre piratas, mas sim sobre descobrir novos mares e novos lugares.

Gustavo Maiato: Algumas músicas como “Melancholy Angel” mostram que você e o Michele Guaitoli formam uma ótima dupla de vocalistas! Por que vocês acham que funcionam tão bem juntos?

Clémentine Delauney: É ótimo dividir os vocais com ele. Temos a mesma mentalidade, trabalhamos para a música. Não brigamos por quem vai cantar cada verso. O objetivo sempre é a música. Se for melhor que ele cante, ele canta. Se for melhor que eu cante, eu canto.

Desde o começo, nosso objetivo sempre foi compor músicas para duas pessoas cantarem. Foi pensado dessa forma. No palco é a mesma coisa. Cada um brilha em um momento. Temos muita cumplicidade, somos próximos como amigos. Temos uma conexão grande. É ótimo trabalhar com ele! Não tem competição, sabe? Isso seria negativo para a banda. Foi uma escolha ótima incorporar ele ao Visions of Atlantis.

Gustavo Maiato: Na maioria das bandas de metal sinfônico, como Nightwish e Epica, o vocal feminino sempre se destaca mais. No Visions of Atlantis é bem balanceado isso...

Clémentine Delauney: Esse equilíbrio entre as vozes feminina e masculina sempre aconteceu no Visions of Atlantis. Também sempre trambalhamos com vocais limpos. No caso do Epica, por exemplo, o vocal masculino é gutural, feito pelo Mark Jansen. Eles têm essa pegada de metal sinfônico com death metal. É uma mistura, por isso eles vão para o gutural.

O Visions sempre foi uma banda mais inclinada para a melodia. Sempre achamos importante prestar atenção nisso e honrar as duas vozes que temos. Esse equilíbrio entre as vozes é como curtimos.

Gustavo Maiato: Como é a relação do Visions of Atlantis com as outras bandas do metal sinfônico?

Clémentine Delauney: Nós não vivemos nos mesmos países. (Obs: O Visions of Atlantis é essencialmente da Áustria). Encontramos o Epica muitas vezes em festivais, conhecemos uns aos outros. Nosso baterista Thomas Caser já esteve em turnês com o Nightwish no passado. Ele conhece o Tuomas Holopainen.

Mas sabe, esse relacionamento entre as bandas só cresce mesmo quando dá para ficar mais tempo junto ou se você viver na mesma cidade. De qualquer maneira, conhecemos as bandas do cenário pelo menos de vista. Chamar de amigo acho que pode ser um exagero!

Gustavo Maiato: Voltando a falar sobre “Pirates”, a música “Clocks” está sendo muito elogiada! Como foi o processo de composição dela? Aquele refrão é animal demais!

Clémentine Delauney: Essa música é do Michele. Ele tinha essa melodia dentro dele, acho que veio das suas raízes italianas, não sei! Ele é um cara muito melódico e esse refrão veio daí. O que é algo ótimo!

Gustavo Maiato: Falando sobre seus outros projetos, quais as novidades sobre o Exit Eden? Como é trabalhar com a brasileira Marina La Torraca?

Clémentine Delauney: Bom, nós nunca gravamos nossas linhas vocais juntas. Não estivemos em grandes turnês também. Claro que nos vimos algumas vezes, mas não passamos muito tempo juntas ainda. A notícia boa é que sim, vamos fazer um novo álbum! Ele será lançado ano que vem!

Gustavo Maiato: Você é natural da França, que é um país enorme, mas sem muitas bandas de metal. Por que isso acontece?

Clémentine Delauney: Existem bandas de metal na França, mas eles têm um problema enorme para conseguir transpor as fronteiras. A raiz do problema vem do fato de que as bandas da França não conseguem fazer uma boa rede de contatos. Para isso, é preciso uma mentalidade específica e as bandas francesas acho que não têm isso. Eles não sabem como ser uma banda grande.

Não sei, eles tentam ser organizados e profissionais. Chegam a produzir materiais, mas países como Holanda, Alemanha e Inglaterra produzem muitas bandas de alta qualidade. As bandas da França parecem não estar dispostas a investir tudo que é preciso para conseguir atenção. Tem muita banda por aí, acho que as bandas na França pensam que vão começar pequenas e aos poucos vão conseguir atenção.

Eles estão com aquela mentalidade de enviar álbuns para uma gravadora, mas não funciona assim! O grande problema é que ninguém na França está ciente de como as coisas realmente funcionam. Esse é meu palpite.

Gustavo Maiato: Quais bandas que você curte, mas as pessoas ficariam surpresas em descobrir?

Clémentine: Gosto de metal bem moderno como Falling in Reverse e Bring Me The Horizon, que são bandas que os metaleiros true torcem o nariz! (risos). Também curto música eletrônica e trance. Gosto de músicas de filmes, Frank Sinatra e coisas instrumentais. Gosto de Björk, Madonna! Toda música que me toca, vou passar a ouvir. Não me importo muito com o estilo.

Gustavo Maiato: Já dá para pensar em shows aqui no Brasil?

Clémentine Delauney: Temos uma turnê grande pela Europa. Já vamos anunciar uma turnê na Austrália também. Depois devemos voltar aos EUA. Estivemos por lá com o DragonForce e foi um sucesso! Claro que tentaremos voltar para a América do Sul. Nós tivemos que cancelar a turnê que faríamos por aí por colidir com as datas nos EUA.

É difícil para uma banda como o Visions o Atlantis visitar o Brasil por motivos financeiros. Para ser honesta, se nós formos para a América do Sul, isso vai nos custar dinheiro ao invés de nos fazer ganhar dinheiro. Ou seja, precisamos fazer escolhas.

Nossa gravadora e produção é cara. Temos que zerar esses investimentos antes. Para investir em uma turnê na América do Sul, precisamos ter certeza que conseguiremos pagar por isso. É difícil! Toda hora surgem pedidos o México e do Brasil. Amamos quando visitamos aí em 2019, mas é algo complicado. Quero muito voltar para o Brasil! O público é fantástico. Faremos o possível para voltar! Não é como se nós não quiséssemos voltar!

26 Mai 2022

Entrevista: Clémentine Delauney (Visions of Atlantis)

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