04/05/2022 às 21:25 Entrevistas

Entrevista: Udo Dirkschneider (ex-Accept, U.D.O)

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Udo Dirkschneider é uma verdadeira instituição do metal alemão. Aos 70 anos de idade, o vocalista lançou “My Way”, um álbum de covers com diversos sucessos que marcaram sua trajetória!

Conversei com Udo sobre seu novo disco e também sobre sua passagem pelo Accept, os 35 anos da banda U.D.O, a relação com o guitarrista brasileiro Bill Hudson, o motivo pelo qual cortou os cabelos e muito mais! Boa leitura!

Gustavo Maiato: Uma das músicas presentes em "My Way" é "We Will Rock You", do Queen. Você acabou de lançar um clipe para o hit e o resultado ficou muito engraçado! Você vestido de zelador se divertindo ao som da música. Pareceu que você era um jovem rapaz descobrindo o rock! Como foi essa experiência?

Udo: Foi muito divertido gravar! Não é um vídeo típico de heavy metal, isso acho legal, acabou ficando mais interessante. Não é só nós tocando. Mas foi bem desafiador, sabe? Troquei de roupas várias vezes! Agora percebi que o produtor fez a coisa certa. No começo, não estava certo se funcionaria essa ideia! Todos gostaram, ficou ótimo!

Gustavo Maiato: Meu cover favorito do disco foi “Man On the Silver Mountain”, cantada pelo Dio nos seus tempos de Rainbow. Qual era sua relação com o Dio e com essa música?

Udo: Bom, não quero dizer que era um amigo próximo do Ronnie James Dio. Lá pelos idos de 2002, nós conversamos muito, nos encontramos na Alemanha em turnês. Sempre fui um grande fã do Rainbow! Assisti vários shows deles. Quando precisei escolher as músicas do álbum, certamente quis fazer uma do Rainbow. Não é como se eu quisesse cantar como o Dio, coloquei minha própria personalidade.

Na verdade, isso foi a coisa principal nesse álbum. Procurei colocar em todas as músicas minha própria característica. O resultado ficou legal. Fiquei muito feliz com isso!

Gustavo Maiato: Será que podemos esperar uma parte dois desse projeto de álbuns com covers?

Udo: Acho que não! (risos). Não foi algo planejado, mas sim algo que surgiu com a pandemia. Não dava para fazer turnês, só trabalhar no estúdio. Aí o Stefan Kaufmann falou: “Por que não fazemos esse projeto de covers que você sempre quis?”. Topei na hora! Seria ótimo se divertir com isso. Começamos a conversar e depois de algumas bebidas as pessoas foram surgindo para tornar isso possível. O processo foi bem legal, fiz uma lista de todas minhas músicas favoritas desde os anos 1970!

Gustavo Maiato: Teve alguma música que quase não entrou no álbum?

Udo: A música “I’m down”, dos Beatles, não entrou. Nós chegamos a cogitar, seria algo bem pesado e diferente, mas disseram que não ia rolar, então não foi para frente. Acabei focando em outras coisas.

Gustavo Maiato: Você trabalhou com o guitarrista brasileiro Bill Hudson no passado recente. Como foi a experiência? Por que ele saiu?

Udo: Sim, eu estava procurando um guitarrista e estava com pressa. Uma amiga me indicou o Bill Hudson e tocamos algumas datas. Ele é um ótimo guitarrista, mas no final... Bom, não quero dizer nada de ruim sobre ele. Simplesmente, em um nível pessoal, não rolou muito bem, sabe? Como músico, ele era muito bom, mas não rolou, então trocamos de guitarrista. Eu disse para ele isso. Esse tipo de coisa acontece com frequência. Tenho sempre um problema com o segundo guitarrista!

Gustavo Maiato: Você conhece outras bandas do Brasil?

UDO: Sim! Conheço o Angra. Lembro de fazer um show no Brasil e o Angra estava lá. O cantor morreu, certo? Ele era um cara muito legal, foi muito bom conhece-lo, mas o que posso fazer? Ninguém sabe o que pode acontecer.

Gustavo Maiato: O álbum “Animal House”, lançado em 1987, foi o primeiro da banda U.D.O e completa agora 35 anos! Quais memórias você tem dessa época?

Udo: Esse álbum seria o próximo do Accept depois do “Russian Roulette”. Sem entrar muito em detalhes, a ideia era ser algo mais comercial. Acontece que eles me demitiram da minha própria banda. Eu fiquei com essas músicas, que seriam para o disco do Accept. Eu disse “Ok”, peguei as músicas e procurei por músicos novos.

Se esse álbum saísse sob o nome do Accept, teria tipo mais sucesso. Mas eu fiquei feliz na época. O disco saiu e todos gostaram. Fiz uma turnê pela Europa e pelos EUA, abrindo para o Guns N’ Roses e para Lita Ford. Para mim, foi uma época boa, sabe? O passado é o passado, por isso gravei uma música em alemão pela primeira vez agora! A letra diz que não tem como voltar, esse é o espírito. Nunca olhe para trás! Sempre para frente! Posso dizer que escolhi o melhor caminho! Aquele foi o começo do U.D.O.

Gustavo Maiato: Você consegue reconhecer um padrão nas suas músicas que fizeram sucesso no Accept e U.D.O? O que liga todas elas?

Udo: O que faz uma música ter sucesso? Hum, essa é uma pergunta difícil! Não sei, no nosso estilo de música é muito difícil de saber. Normalmente, sucesso é tocar no rádio. Agora, para mim foi uma surpresa quando “Balls To the Walls” fez sucesso. Na Europa, já éramos famosos. Aí, do nada, centenas de rádios começaram a tocar essa música! Ninguém esperava por isso, sabe?

Não dá para saber o segredo. Acho que pode ser ter um bom riff e criar uma melodia que as pessoas possam seguir. Se as pessoas conseguem se lembrar, isso é algo bom. Mas se você realmente sabe fazer isso, talvez você vire um milionário! (risos). Por exemplo, a música “Wind of Change”, do Scorpions, foi assim. Ninguém esperava que aquele lance com assovios fosse fazer sucesso, mas deu certo! Não tem fórmula!

Gustavo Maiato: Fazendo minha pesquisa para a entrevista, vi que você nasceu na cidade de Wuppertal, na Alemanha. Você sabia que o designer mais famoso do Brasil, chamado Hans Donner, nasceu lá também? Ele é da maior emissora de TV do Brasil, chamada Rede Globo!

Udo: Eu não o conheço! Mas sabe, lá em Wuppertal, quando comecei a fazer música, o lugar era muito bom. Tinha música em todo lugar, mas agora não. A coisa se mudou para outras cidades, mas sempre foi um lugar bom. Hoje em dia, nada acontece por lá!

Gustavo Maiato: Muitas pessoas dizem que você tem uma voz única e eu concordo! O que você pode dizer sobre isso?

Udo: Você nasce com sua voz. Existem pessoas que realmente possuem vozes únicas, como Rob Halford, Bruce Dickinson, Dio, Lemmy e outros. Quando você bota a música, já sabe quem canta. Posso dizer que sou sortudo por isso. Não dá para aprender isso. Definitivamente, existem muitos cantores que cantam melhor do que eu tecnicamente, mas talvez não tenham nada de especial.

Gustavo Maiato: Você costuma dizer que não se importa de já ter passado dos 70 anos! Como é chegar nessa idade fazendo rock?

Udo: Sim, não me importo com isso! Não sinto como se tivesse 70 anos. Muitos me perguntam sobre aposentadoria. Não faz sentido para mim! Sempre que eu estiver me divertindo, minha voz estiver boa, eu estiver com saúde e puder fazer turnês pelo mundo, por que ficar em casa bebendo café? Não faz sentido! Claro que não tem como saber o amanhã, mas agora não me vejo parando.

Gustavo Maiato: Em outra entrevista, você disse que bandas jovens não devem assinar contratos com gravadoras. O que você quis dizer com isso?

Udo: Pois é, esse é meu conselho para bandas novas. Hoje em dia existem muitos recursos como o Facebook e o Instagram para você aparecer. No que diz respeito à gravação, existem vários recursos também. Dá para fazer tudo pela internet. Não é preciso tanto dinheiro para fazer um álbum quanto antes.

Para mim, dá pra gravar um álbum por conta própria. Sei que custa dinheiro, mas não é tanto assim. Aí você precisa procurar alguém para promover seu trabalho pela internet. Isso é o que precisa ser feito. Todo dinheiro vai para a banda e não para as gravadoras. Se tivesse que recomeçar, nunca assinaria! Eles não te dão apoio financeiro.

Gustavo Maiato: Muitos rockstars deixam o cabelo crescer, mas você cortou o seu nos anos 1980! Por que você fez isso?

Udo: Tenho o cabelo curto desde 1982! Nessa época, estávamos buscando uma imagem diferente para o Accept. Queríamos nos diferenciar de todas as outras bandas do cenário. Então, pensamos que no meu caso, para eu poder performar melhor no palco, seria legal vestir coisas inspiradas em camuflagem. Ia ficar estranho usar essas roupas e ter cabelo grande. Foi meramente por negócios! Mas no final, fiquei feliz de ter cortado! Acho que funcionou na época! Hoje em dia, todos usam esse lance de camuflagem, mas em 1982 era novidade!

Gustavo Maiato: Qual a expectativa para os shows no Brasil em 2022?

Udo: Será um prazer tocar no Brasil! Vocês podem ver nas minhas redes sociais as datas. Será ótimo ver meus fãs por aí! Vamos agitar muito juntos!


04 Mai 2022

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