02/07/2021 às 00:54

Entrevista com Aydan (Elvenking): os 20 anos de “Heathenreel” e a cena folk metal atual

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Nesse mês de julho, o Elvenking está comemorando os 20 anos de “Heathenreel” (2001), primeiro disco da banda italiana que revolucionou o folk metal.

Em clima de festa, convidei Federico “Aydan” Baston, guitarrista e um dos fundadores, para uma conversa descontraída sobre o início do Elvenking e sobre a vitoriosa trajetória de sucessos da banda.

Também conversamos sobre “O Senhor dos Anéis” e sobre a possibilidade de vinda ao Brasil!!! Boa leitura!!!

Gustavo Maiato: O Elvenking acabou de lançar o single “The Moon and the Magic”. Como foi lançar essa música em plena pandemia? Os fãs já podem esperar por um novo disco em breve?

Aydan: Esse single foi lançado agora na pandemia, mas já estava gravado antes. Foi durante as gravações do “Reader of the Runes – Divination” (2019). Essa música não estava encaixando no disco, então tivemos a ideia de lançar somente agora como single.

O próximo álbum vai continuar a história do “Reader...”, então resolvemos lançar esse single agora, no meio do caminho entre os dois capítulos. Obviamente, queríamos gravar um videoclipe mais elaborado também, mas a pandemia estava muito forte aqui na Itália na época e não foi possível viajar para filmar.

Quando as coisas melhoraram um pouco, conseguimos gravar, não ficou tão elaborado, mas valeu o esforço! Então essa música funcionou como uma ligação entre os dois capítulos!

Gustavo Maiato: O Elvenking está comemorando 20 anos do primeiro disco “Heathenreel” (2001). Parabéns pelo aniversário! Como você vê esse álbum hoje em dia e quais memórias você tem daquela época?

Aydan: Caramba, são 20 anos! É bastante tempo! Às vezes, parece que foi ontem, outras vezes parece que isso aconteceu há muitos e muitos anos. Naquela época, eu tinha vinte anos, o Damna tinha dezoito! Éramos jovens com muita paixão.

Lembro muito dessa paixão e do nosso esforço para entregar esse nosso primeiro disco. Antes, tínhamos lançado apenas demos. Nessa época, nem imaginávamos que isso fosse dar em alguma coisa! No início dos anos 2000, a Itália não era um país forte no heavy metal.

Isso mudou em 1997, 1998, por aí. As primeiras bandas italianas começaram a ter sucesso mundialmente, como o Labyrinth. O disco “Return to Heaven Denied” (1998) foi muito importante para nós. Eles eram nossos heróis! Descobrimos que era possível ter sucesso mesmo sendo uma banda da Itália.

No mesmo tempo, o Rhapsody estava surgindo. Eles tinham os alemães da Limb Music por trás. Então, lançaram o primeiro disco e nós pensamos: “caramba, eles são italianos, mas está tão bom que soam como alemães!”.

Então, descobrimos que havia sim possibilidades para o Elvenking. Nosso sonho poderia se tornar realidade. Mandamos nossa demo para várias gravadoras e logo chegaram telefonemas de gravadoras da Alemanha.

Chegamos a discutir contratos, mas na verdade nem estávamos nos importando com o contrato! Só de poder lançar um álbum já era um sonho. Nós também realizamos o sonho de gravar no Studio Fredman, do pessoal do In Flames, na Suécia.

Bandas como o próprio In Flames, Dark Tranquility e HammerFall gravaram lá, então era o tipo de som que vinha da Suécia e nós adorávamos. Quando assinamos com a AFM Records, perguntamos se podíamos mixar lá no Fredman, em Gotemburgo. Eles falaram que sim e nós ficamos tipo: “Uau!”.

Tudo foi como um sonho. Lembro de ensaiar umas quatro vezes por semana, compondo coisas novas. Foi uma época maravilhosa, e já tem vinte anos!

Gustavo Maiato: Um dos pontos altos do “Heathenreel” é a música “Seasonspeech”. São quatro vozes, cada uma interpretando uma das estações do ano. Como surgiu a ideia para essa música?

Aydan: Primeiro, preciso dizer que na nossa demo nós estávamos com uma proposta mais power metal. Os fãs falaram que seríamos “os novos Blind Guardian”, porque as músicas tinham essa direção mesmo. Também fomos muito influenciados pelo death metal melódico dos anos noventa.

Quando assinamos o contrato, nossa ideia era fazer algo ainda mais pessoal, não quero falar “original”, porque originalidade na música é difícil. Mas estávamos buscando algo mais único e começamos a fazer músicas mais folk, coisas mais acústicas.

No caso da “Seasonspeech”, lembro que levei uma música para o ensaio uma vez. Estávamos trabalhando nela, mas não estava 100% legal. Eu, Damna e Jarpen trabalhamos nessa ideia juntos, tocamos as melodias que já existiam e na hora de pensar os versos, lembro que eu e o Damna estávamos cantando juntos.

Cada um cantava uma frase de maneira alternada. Então, pensamos: “isso está soando legal!”. Aí surgiu a ideia de usar diferentes vozes, com quatro vocalistas que poderiam personificar alguma coisa.

Em paralelo, eu adorava uma música do Dark Tranquility chamada “Shadow Duet” que tinha esse dueto entre as sombras. Pensei em fazer algo parecido. Eu lembrei de uma história que escrevi sobre as estações do ano conversando umas com as outras.

Então, a ideia surgiu daí. Tinha o Jarpen que poderia ser o inverno. Para interpretar o verão, conseguimos a soprano Pauline Tacey. A primavera foi interpretada pela cantora Laura de Luca, que tem uma foz feminina suave. O Damna foi o outono, e o resultado ficou legal! É uma das nossas músicas que eu pessoalmente gosto muito.

Gustavo Maiato: Depois do “Heathenreel”, veio o disco “Wyrd” (2004). Tenho que dizer que é o meu favorito! Uma das músicas mais legais do álbum é a “The Silk Dilemma”. Qual foi a inspiração por trás dessa música? Que memórias você tem do “Wyrd”?

Aydan: Na verdade, não tenho muitas lembranças boas do “Wyrd” porque foi um período difícil para a banda. O Damna tinha saído, estávamos tentando encontrar nosso caminho. As coisas na banda não estavam legais, todos sentiam muita falta do Damna.

O trabalho no disco também não fluiu muito bem, escrevemos e reescrevemos diversas vezes. Foi um pesadelo! Mas conseguimos algumas músicas legais, como a “The Silk Dilemma”. É uma música bem folk, a ideia foi parcialmente inspirada por um livro italiano chamado “Seda”.

A ideia é que a seda é um tecido precioso, caro e frágil. Penso que é assim que devemos tratar nossos relacionamentos, sejam amorosos ou entre amigos. Você pode arruinar facilmente a seda, assim como pode acontecer em um relacionamento. É algo muito rico em nossas vidas, mas é preciso ter cuidado.

Gustavo Maiato: No disco “The Scythe” (2007), vocês lançaram a música “The Divided Heart”, um dos maiores sucessos da banda até os dias de hoje! Como foi a composição dessa música?

Aydan: Se você olhar nossa discografia, vai perceber que passamos por diferentes fases. Depois do “Wyrd” veio o “Winter Wake” (2006), que tinha sido o maior sucesso até então.

Então, fomos para outra direção completamente diferente em “The Scythe”, era mais agressivo, com influência forte de death metal. Também tinha coisas eletrônicas, hoje em dia eu me arrependo de ter feito, mas foi algo do momento...

Lembro que nosso som mudou tanto que brincávamos: “nossas músicas estão fazendo sucesso, então que tal mudar tudo e arruinar nossa sonoridade?”.

De qualquer maneira, “The Divided Heart” é sim um dos nossos maiores sucessos. Em termos de streamings e views, com certeza. Quando tocamos ao vivo, o pessoal costuma gostar muito também.

Lembro que eu e o Damna estávamos compondo o disco e ele surgiu com a melodia do refrão. Ele achou que não encaixava porque era muito pop. Eu falei: “não cara, nós definitivamente temos que avançar essa ideia!”.

A melodia do refrão era bem chiclete, perfeita. Nós desenvolvemos e tudo ficou pronto em pouco tempo. Nós não sentamos e falamos: “vamos escrever um ótimo single”. Simplesmente não funciona assim. Essa música é aquele tipo de composição que você escreve uma vez na vida, outra na morte!

Gustavo Maiato: Qual sua opinião sobre a cena folk metal nos dias de hoje? Vocês foram uns dos pioneiros lá atrás!

Aydan: Desde o começo da banda, a ideia sempre foi incorporar elementos folk. Isso foi lá em 1997! Desde a época das primeiras demos, já tinha essa influência. A banda britânica Skyclad, por exemplo, nos inspirou a ter um violinista na nossa formação.

É uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos, o disco “A Burnt Offering for the Bone Idol” (1992) é um dos melhores discos de todos os tempos para mim! Era algo novo, original para a cena metal.

Quando começamos, o som que fazíamos era algo praticamente único. Também tinham bandas de death metal como o Bathory que contavam com essa influência folk, mas eu não conhecia muitas bandas mais melódicas que incorporavam coisas folclóricas na música.

Com os anos, muitas bandas de folk metal surgiram! Não quero dizer que fomos um dos primeiros, mas isso é verdade! Em certo ponto, lembro de ficar de saco cheio porque todo mundo estava fazendo folk.

Minha vontade era fazer algo diferente, então no “The Scythe” e no “Red Silent Tides” (2010) queríamos provar para nós mesmos que, como compositores, poderíamos fazer algo diferente, mais único ainda, já que todos estavam fazendo coisas folk.

Especialmente, há uns cinco anos, percebi essa superpopulação de bandas de folk metal! Hoje em dia, acho que só as melhores sobreviveram, como o Eluveitie e o Ensiferum. Já tocamos juntos com o Ensiferum aí na América do Sul, por exemplo. Foi ótimo!

Isso acontece com todos os subgêneros. Do nada pode surgir um movimento thrash forte. Aí de repente essas bandas somem, e aí sobram apenas as bandas boas de thrash. Mesma coisa com o folk. Muitas bandas desapareceram e as boas estão mais fortes do que nunca!

Gustavo Maiato: No ano passado, vocês gravaram o cover de “No Prayer For The Dying”, do Iron Maiden. Essa não é uma das músicas mais famosas deles! Normalmente, vemos covers de “Fear of the Dark” ou “The Trooper”. Como surgiu a ideia de gravar essa música?

Aydan: Foi justamente por isso! Eles são o Iron Maiden, não faz sentido fazer cover de “Aces High” ou “The Number of the Beast”. Já são tão perfeitas, é a bíblia do heavy metal! Você não ganha nada fazendo versões dessas músicas!

Já com “No Prayer For The Dying”, que não é tão famosa, o resultado podia ser legal. Eu queria fazer um cover dessa música desde 1999. Eu era uma criança, ouvi esse disco e me apaixonei na hora!

Quase ninguém considera esse disco como favorito do Iron Maiden. A produção não é muito boa e o Bruce Dickinson estava experimentando coisas novas com sua voz. Ele estava tentando algo diferente.

Na minha opinião, essa música tem um potencial muito grande. Fora que tem uma pegada folk, resolvemos ver como ficaria com o violino.

Nós adicionamos ainda mais essa veia folk na música, com elementos acústicos. Foi a escolha perfeita de uma música do Iron Maiden para ser transforada na maneira do Elvenking. Espero que todos gostem!

Gustavo Maiato: O nome “Elvenking” foi retirado de Thranduil, o Rei Élfico, presente no livro “O Hobbit”, de J. R. R. Tolkien. Qual é a sua relação com toda a saga do “O Senhor dos Anéis”? Você está animado com essa nova série que a Amazon está produzindo sobre o universo de Tolkien?

Aydan: Então, isso começou lá atrás. Eu e o Jarpen já tínhamos a ideia de fazer a banda desde 1994. Primeiro, queríamos aprender a tocar melhor. Depois, o Jarpen passou 1 ano nos EUA para estudar inglês. Tivemos que adiar o início da banda, mas nessa época nem existia a trilogia de filmes do “O Senhor dos Anéis”. Acho que nem tinham anunciado!

Ou seja, a história não era tão conhecida como hoje. Muitas pessoas nem sabiam da existência do Tolkien! Eu li “O Senhor dos Anéis” quando tinha uns nove anos. O Jarpen também leu bem cedo. Quando o Damna entrou, ficou empolgado com o fato de todos nós gostarmos do Tolkien.

Então, o nome “Elvenking” surgiu baseado em uma ilustração do livro “O Hobbit” chamada “The Elvenking’s Gate”. Nomear a banda com algo relacionado ao universo de Tolkien foi muito importante para nós.

A primeira música que escrevemos se chamava “The Fellowship Of The Ring”. Depois, mudamos a letra para algo mais pessoal, mas ela ficou com esse nome por um bom tempo.

No “Heathenreel”, tem uma música chamada “Oakenshield”, que é baseada em um personagem do “O Hobbit”. Depois a saga se tornou um dos produtos de massa mais amados do mundo! Isso é ótimo! Mas nós estávamos lá antes!

Estou bem curioso sobre essa nova série da Amazon. Eu li que será lançado em março ou abril. Vamos ver o que eles vão fazer!

Gustavo Maiato Vocês já têm planos para turnês ou para um novo disco? Quem sabe podemos esperar uma vinda ao Brasil!

Aydan: Ninguém esperava que essa situação da pandemia ia durar tanto tempo. Foi uma surpresa. Se alguém falasse que você teria que usar máscaras por quase dois anos, ninguém acreditaria!

A situação está melhorando aqui na Itália, a vacinação está andando. Sei que no Brasil a situação não está muito boa.

De qualquer forma, li que o Guns N’ Roses já marcou uma turnê nos EUA para julho ou agosto, então parece que as coisas estão voltando ao normal. Temos planos para festivais de verão aqui na Europa, mas no momento reagendamos algumas coisas.

Já estamos quase dois anos sem shows, então conseguimos ter tempo para escrever coisas novas. Não podíamos fazer nada, então resolvemos compor. Eu me encontrei com o Damna algumas vezes, reunimos bastante material.

Temos músicas novas a caminho! Queremos voltar aos palcos e também ao Brasil, claro! Assim que for possível. Temos anúncios especiais também para fazer! Provavelmente em setembro vocês vão ouvir falar! Fiquem ligados!!

02 Jul 2021

Entrevista com Aydan (Elvenking): os 20 anos de “Heathenreel” e a cena folk metal atual

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