16/12/2020 às 11:58 Entrevistas

Entrevista com Elize Ryd, do Amaranthe: 'Anette Olzon foi minha grande inspiração!'

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Dona de um dos três microfones e principal nome da banda sueca Amaranthe, Elize Ryd vem se tornando uma das grandes vocalistas de sua geração. Bati um papo exclusivo com Elize, que falou sobre as músicas do novo disco 'Manifest' (Nuclear Blast), comentou sobre o início da carreira e falou sobre a possibilidade de vir ao Brasil ano que vem. Confira abaixo!

Gustavo Maiato: O novo disco 'Manifest' traz muitas mensagens positivas como na música 'Strong' e em 'Fearless'. Essas mensagens são importantes de serem ouvidas nesses tempos sombrios de pandemia em que estamos vivendo?

Elize Ryd: Sim, isso tudo afetou a saúde mental de todos. Da mesma forma que as pessoas ficam para baixo com essa situação, entendo que elas podem ser trazidas para cima de volta se receberem essas mensagens positivas. Nós queremos focar nisso, é importante.

Gustavo Maiato: Na música 'Archangel', a letra diz que um arcanjo vai chegar na Terra para curar nosso planeta. Acho que nesses tempos sombrios um arcanjo desses viria a calhar...

Elize: Eu vejo como uma metáfora para as pessoas que criam essa espiral de negatividade no mundo. A música fala sobre uma pessoa que é muito orgulhosa no que faz e nós precisamos ter cuidado, pois isso pode levar a uma situação onde a pessoa não tem mais sucesso. Mas eu acho sim que precisamos de um arcanjo, é uma metáfora para a queda de Lúcifer e a guerra que ele travou no paraíso. Ele foi expulso e essa história pode ser lida no livro Paradise Lost, que já foi uma inspiração para muitas bandas de Metal. Existem arcanjos muito bons por aí, nós precisamos olhar mais uns para os outros e ver o que cada um pode fazer de bom pelo mundo.

Gustavo Maiato: Como foi fazer o cover de '82nd All The Way', do Sabaton? Como vocês escolheram essa música?

Elize: O Pär (Sundström, baixista) do Sabaton enviou essa música para a gente. Eles tinham essa vontade de que o Amaranthe fizesse um cover deles. Eles enviaram algumas músicas do disco para a gente ouvir e eu imediatamente falei que a '82nd...' daria um ótimo cover. Nós gravamos e foi basicamente um gesto de amizade entre a gente, nós somos amigos há muito tempo já. Eu acho que essa música foi uma ótima escolha!

Gustavo Maiato: E qual música do Amaranthe você acha que daria um bom cover nas mãos do Sabaton? 

Elize: Essa é uma pergunta muito criativa! Acho que 'Fearless' ou outra do novo álbum.

Gustavo Maiato: Eu perguntei isso ao Olof Mörk (guitarrista do Amaranthe) e ele falou que uma boa música para o Sabaton fazer cover seria a 'Make It Better', também do novo disco.

Elize: Claro! Essa seria uma escolha óbvia!

Gustavo Maiato: O Amaranthe é conhecido pelas ótimas produções de videoclipes. Qual a importância dessa parte visual para a banda?

Elize: É importante por um lado, mas às vezes eu penso que não quero criar uma história para uma música, porque uma música pode ter várias histórias. Essa é a situação das nossas baladas por exemplo, nós não lançamos vídeos de baladas já tem tempo. Uma história amor não precisa ser necessariamente sobre sentir a falta de um namorado, pode ser sobre sentir falta de um membro da família, alguém que faleceu.

É difícil escrever um roteiro apenas para uma música. É mais importante que as pessoas criem suas próprias interpretações sobre as músicas. Mas eu acho que é importante fazer vídeos bons, nós amamos isso. Essa é a principal razão de nós fazermos. Não é importante ter produções caras, mas se você é uma banda ligada ao visual e isso será interessante para quem está assistindo... Isso pode ser importante. Nós fazemos porque adoramos atuar e ser super heróis!

Gustavo Maiato: O seu tipo de voz é diferente de outras cantoras consagradas no metal como Tarja Turunen e Floor Jansen. Sua voz é bem única. Algumas pessoas podem achar muito pop. Como foi para você no começo do Amaranthe criar seu próprio caminho dentro do metal?

Elize: Essa pergunta é interessante. Em primeiro lugar, eu sou a compositora. As pessoas podem confundir qual é o meu papel na banda, porque podem achar que eu sou apenas a cantora.

É raro ver uma mulher escrever músicas dentro do metal, mas eu que escrevo as linhas melódicas para a voz. Eu canto as músicas que escrevo. No começo eu pensei que não iria me encaixar e pensei até em procurar uma mulher para cantar minhas composições. Isso mudou quando eu ouvi a Annete Olzon no Nightwish. Ela foi minha principal inspiração. Eu pensei “nós temos a mesma educação musical”, eu frequentei a mesma escola de música que ela.

Eu percebi que não é preciso cantar ópera para cantar metal. Então, percebi que eu mesma poderia cantar minhas próprias músicas! Eu percebi que isso era aceito pelo público. Outra banda importante para mim foi o Evanescence. A maneira que a Amy Lee canta me influenciou.

Eu amava cantar e sempre quis trabalhar com música. Eu queria começar minha própria banda e então percebi que isso que eu precisava fazer. Eu tive críticas no começo, pois as pessoas pensavam que pela minha voz ser do jeito que é o significado e a profundidade das músicas não seriam fortes.

Você precisa explicar isso para as pessoas e manter o foco. Eu mostrei que era profissional e trabalhei duro para construir tudo. Agora, 10 anos depois, as pessoas entendem que o que importa é a paixão pela música, pelo metal. Nós queremos criar coisas novas e não queremos destruir nada que foi feito.

Minha voz é um fator muito importante nessa questão do Amaranthe querer soar diferente, porque é um tipo de voz diferente. As coisas aconteceram da forma que deviam. Eu não tenho mais vergonha da minha voz, eu não posso mudá-la, mesmo se eu quisesse. Não posso querer cantar como a Floor Jansen. Isso não podia me frear.

Gustavo Maiato: O Amaranthe trocou duas vezes o posto de vocalista masculino. Como foi para você adaptar sua voz aos novos integrantes?

Elize: Foi diferente me acostumar nos primeiros shows. Mas por outro lado, eu sempre trabalhei com muitos cantores no passado, então sou acostumada. Eu tenho educação musical, então não sou afetada tanto por essas mudanças, não perco a autoconfiança. Nós ficamos sempre apreensivos sobre como os fãs vão receber os novos cantores, mas da minha perspectiva, eu penso que sempre é legal conhecer a personalidade dessas novas pessoas, nem tanto a voz em si. Isso deixa o trabalho mais prazeroso. Foi muito legal poder conhecer o Nils Molin e o Henrik Englund. O Henrik nós já somos amigos por muito tempo, isso é muito importante.

Gustavo Maiato: Para mim, a melhor música do disco é a 'BOOM!1'. Você até fez um gutural nela, como surgiu a ideia para essa música?

Elize: Sim! Eu cantei em gutural o verso: “Deixa eu tentar? BOOOOM!”. A ideia dessa música nasceu em um turnê onde a gente estava conversando que seria legal fazer algo ainda mais louco. Nós queríamos colocar as coisas em um outro nível e o Henrik já vinha ganhando espaço em discos anteriores como na música 'GG6' ('Helix', 2018). Agora, com 'BOOM!’', ele tem a sua própria música.

Ela foi inspirada nessa situação toda onde as pessoas estão muito negativas, você fica com vontade de brigar, de discutir a todo momento. Você discute até com pessoas que têm a mesma opinião que você! E depois você quer explodir tudo. Essa ideia era algo que nós podíamos transformar em música.

Existe uma fraqueza na humanidade com todas essas brigas e negatividade. Isso não traz nada de bom. Por isso, decidimos escrever essa música. Nós fizemos um brainstorm em uma noite, depois de uma festa! Nós ouvimos muito Eminem, eu era jovem quando ele estava em todas as rádios e na MTV. O Henrik é muito bom em fazer esses guturais em formato de RAP, eu não sei se tem outras pessoas que conseguem fazer isso!

É um talento dele e queríamos que ele mostrasse mais esse lado dele. Eu gravei o refrão no estúdio e fiquei pensando “eu também quero fazer o gutural!”. Normalmente faço as harmonias das vozes. Dessa vez, eu falei no microfone “posso tentar?” e foi algo espontâneo no estúdio, eu cheguei e gritei “BOOOOM!”, e nós resolvemos deixar isso na versão final. A maioria das ideias surgem de maneira espontânea.

Gustavo Maiato: Você fez um ótimo trabalho cantando no 'I Am The Empire', o último DVD do Kamelot. Os fãs podem esperar que o Amaranthe lance um DVD em breve?

Elize: Eu só posso dizer que isso é um objetivo que temos já tem muito tempo. Por alguma razão não rolou ainda. Nós tivemos mudanças na formação, mas agora nos sentimos mais estabilizados. Agora seria uma ótima oportunidade para gravar. Claro que não agora, porque não podemos tocar ao vivo devido ao coronavírus.

Quando for liberado shows novamente, podemos pensar. Os três vocalistas estão bem fortes na banda, nós podemos entregar um DVD mais competente. A nossa audiência está maior também, então vai ficar muito legal visualmente ver todo mundo nessa gravação de DVD.

Gustavo Maiato: Você conhece alguma banda brasileira? É fã de alguma?

Elize: É interessante conhecer o trabalho de bandas de outros países. Aquela banda Jinjer é do Brasil ou da Argentina? Eles são muito bons.

Gustavo Maiato: Eles na verdade são da Ucrânia. Muito bons mesmo!

Elize: Sério? Caramba! Não sabia.

Gustavo Maiato: As pessoas costumam conhecer o Sepultura.

Elize: Sepultura é o nome que eu estava buscando na minha mente! Eu cantei uma música com o DerrickGreen, não é todo mundo que sabe disso! É uma música de um filme chamado “Virando a Mesa”. A música se chama 'Why Can´t You See', foi muito divertido! Foi um projeto muito legal para mim.

Obs: o filme saiu ano passado.

Gustavo Maiato: Você tem planos para fazer turnês no ano que vem? Os fãs brasileiros podem esperar por shows de vocês?

Elize: Nós adoraríamos tocar aí novamente. Na última vez que viemos, foi fantástico. Ano que vem nós entraremos em uma turnê, mas apenas na Europa. Não saberemos se realmente vamos poder tocar, talvez apenas se surja a vacina. Mas quando nós tivermos a chance, nós adoraríamos fazer uma turnê completa ao redor do mundo e faremos o melhor para encontrar nossos fãs brasileiros. Vocês têm uma energia ótima!

Gustavo Maiato: Por favor, deixe uma mensagem final para os leitores do Rebel Rock e para seus fãs brasileiros!

Elize: Aos fãs que eu encontrei, quero dizer que amo você! Vocês cantaram todas as músicas no show que fizemos em São Paulo e foi a primeira vez que nós visitávamos o Brasil! Obrigado pelo apoio, espero ver todo mundo em breve!

Obs: entrevista feita em parceria com o blog Rebel Rock!

16 Dez 2020

Entrevista com Elize Ryd, do Amaranthe: 'Anette Olzon foi minha grande inspiração!'

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amaranthe elize ryd manifest modern metal nuclear blast

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